Os orientais ensinam que a decoração pode se basear em algo além da funcionalidade e da beleza: é deles o feng shui, técnica que busca equilibrar a energia da casa através da disposição de móveis, objetos e do uso de cores. Mas para aplicar o feng shui não basta conhecer o efeito da cor azul ou da madeira, por exemplo. É preciso saber em que lugar cada um desses elementos deve ser utilizado. A “bússola” que orienta o desenho desse mapa é o baguá (pronuncia-se “pa-kuá”).

O baguá é um diagrama octogonal, com um trigrama (ou seja, combinações de três linhas) em cada um desses oito lados. Cada trigrama, e consequentemente cada face do baguá, representa um aspecto da vida. Em chinês, a palavra baguá significa, literalmente, “oito símbolos”. A lenda conta que o diagrama foi descoberto pelo imperador Fu Hsi, que governou a China no século 26 A.C. Ele teria visto essa combinação dos trigramas no casco de uma tartaruga, e encontrou neles uma chave para explicar todas as coisas. Hsi, a quem também se atribui a invenção da escrita, deixou os trigramas como um legado para os seus discípulos. A partir daí a coisa se desenvolveu. Foram esses trigramas que deram origem, por exemplo, ao I-Ching e a vários outros produtos da tradicional cultura chinesa. O baguá, que tem outras atribuições além do feng shui, é um deles.

Os oito lados correspondem aos aspectos trabalho, amigos, criatividade, relacionamentos, sucesso, prosperidade, família e espiritualidade. Para descobrir a que cômodo ou canto da casa corresponde cada um desses aspectos, é preciso projetar o baguá sobre a planta do imóvel, alinhando o lado “trabalho” à porta de entrada. Assim, se descobre sob qual influência cada canto está submetido, e quais as cores e elementos certos para equilibrar a energia do local e a área da vida correspondente.

Mas é preciso tomar alguns cuidados. As posições de portas e janelas são importantes, já que elas “interrompem” o fluxo de energia, e podem exigir uma disposição diferente dos objetos para compensar. Além disso, é bastante comum que um mesmo cômodo abrigue duas ou mais energias ao mesmo tempo. E embora a cada um dos aspectos corresponda uma cor, a ideia não é montar ambientes monocromáticos, com um cômodo predominantemente amarelo, outro azul e assim por diante. O objetivo do feng shui é tornar a casa um todo harmonioso. Por isso, busque usar as cores com equilíbrio. Uma opção é utilizar a cor-chave do ambiente em objetos de destaque, em tons mais fortes, ou em uma única parede.

E lembre-se: na prática, tudo sobre a energização de ambientes é bastante pessoal. Não só porque depende da configuração de cada casa, mas também porque ela precisa atender às necessidades e gostos dos moradores. Quem precisa de uma força no trabalho ou nos estudos deve priorizar essas áreas, enquanto quem enfrenta problemas familiares pode dar mais atenção ao canto da casa que concentra a energia familiar. Símbolos pessoais também caem bem. No primeiro caso, podem ser usados livros e objetos que, para o dono, simbolizem os estudos, enquanto no segundo fotos de família podem exercer uma ótima influência sobre o local.